Criadas como instrumento de tortura em regimes autoritários, essas armas foram aprimoradas tecnologicamente até chegar em uma categoria que não demanda o contato corpo-a-corpo. O governo do Brasil está seguindo os passos do EUA e comprou 1,8 mil dessas pistolas para usar na Copa de 2014.

As armas de choque carregam uma carga histórica pesada, que não pode ser ignorada. Seu uso em alvos humanos começou como ferramenta de tortura para extrair informações em interrogatórios durante períodos autoritários de diversos países.

Antes disso, o choque era adotado nas áreas rurais, nas cercas elétricas e mais tarde, no bastão elétrico, utilizado para matar o gado, entre outros animais. Em 1960, com espaço dado para o desenvolvimento das armas de baixa letalidade, a arma de choque sofreu pequenas alterações físicas e uma grande alteração no conceito: passou a integrar a categoria de não letal. Na mesma década, foi utilizada pela polícia no sul dos Estados Unidos e na Argentina contra ativistas, causando revolta na população.

Esse tipo de armamento avançou tecnologicamente até chegar em uma categoria que não demanda o corpo-a-corpo: a arma de choque nomeada Taser. Considerada de baixa letalidade, somente nos Estados Unidos no período entre 2001 a 2008, matou 334 pessoas, sendo que 90% destas estavam desarmadas. É ainda uma porta de fácil acesso a tortura.

O Brasil parece seguir à trilha norte-americana: em contrato com a maior indústria brasileira de produção bélica, Condor S.A. Indústria Química, assinado em 26 de novembro de 2012, o governo federal comprou 1,8 mil armas elétricas para lançamentos dardos energizados – as pistolas Taser – para serem utilizadas nos Megaeventos, incluindo a Copa do Mundo de 2014.

A Anistia Internacional de Direitos Humanos declarou, em 2004, que “distantes de serem usadas para evitar o uso de força letal, muitos departamentos policiais dos EUA estão empregando o Taser como uma força de rotina, para subjugar/imobilizar indivíduos perturbados ou que não colaboram, mas que não representam perigo para si mesmos ou para outros”.

“Em 18 de Março de 2012, o brasileiro Roberto Laudísio Curti, de 21 anos, morreu depois de ser atingido por eletrochoques dispa-rados por armas taser da polícia de Sidney, na Austrália. – A ação policial teve início após o furto de um pacote de biscoitos em uma loja de conveniência durante a madrugada. A polícia australiana alega haver confundido o brasileiro com um ladrão do pacote de biscoitos”.