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< blockquote>Com origens que remontam à Primeira Guerra Mundial, as bombas desse agente químico já foram proibidas em muitos países e são consideradas armas de tortura pela Anistia Internacional. Não existem informações sobre seus danos à saúde, mas existem suspeitas de que a inalação desse agente químico pode estar relacionada a problemas pulmonares, cancerígenos e reprodutivos de longo prazo

O nome “lacrimogêneo” é genérico e designa qualquer agente químico com propriedades irritantes da pele, olhos e vias respiratórias, como o brometo de benzilo ou o gás CS (clorobenzilideno malononitrilo).

As bombas de gás lacrimogêneo podem ser disparadas por diferentes dispositivos e produzem uma fumaça densa. Quando detonadas ao ar livre, as granadas produzem uma nuvem de 6 a 9 metros de diâmetro, concentrando até 5mil mg do gás lacrimogêneo por metro cúbico. Esse índice aumenta em espaços fechados, podendo chegar a concentração de 50 mil mg do agente químico por metro cubico.

Entre os efeitos mais comuns desses agentes químicos, estão: irritação intensa da pele, olhos, membranas do nariz, traqueia, pulmões, garganta e estômago; falta de ar e dificuldade para respirar; vômito e diarreia; secreção nasal; coceira e queimação na pele. As sequelas variam de acordo com a vítima e as condições climáticas no local. Pessoas com problemas respiratórios tendem a sentir mais os efeitos do gás lacrimogêneo, enquanto que calor e baixa umidade dificultam a dispersão do gás.

Inalações intensas dos gás lacrimogêneo demonstraram capacidade de produzir pneumonite química e congestão pulmonar fatal. Também se registraram casos de insuficiência cardíaca, dano hepatocelular (do fígado) e morte em adultos. Durante protesto em maio de 1969 nos Estados Unidos, quatro manifestantes morreram em decorrência à exposição ao gás.

Não existem informações sobre os potenciais danos do gás lacrimogêneo à saúde. No entanto, existem suspeitas de que a inalação desse agente químico pode estar relacionada a problemas pulmonares, cancerígenos e reprodutivos de longo prazo. Por esta razão, muitos países já proibiram o uso dessa arma de baixa letalidade e alguns tentam inclui-la dentro das armas proibidas pelo Protocolo de Genebra. A bomba de gás é considerada arma de tortura pela Anistia Internacional de Direitos Humanos.

Depois de uma série de acidentes envolvendo o uso de agentes químicos, um relatório britânico publicou em 1971 que seus danos à saúde deveriam ser melhor estudados e submetidos a testes de nível farmacêutico. Porém, até os dias atuais, encontramos dificuldades em achar estudos e pesquisas sobre o armamento. Alguns suspeitam que a indústria bélica está por trás dessa falta de transparência.

Os agentes químicos de propriedades tópicas irritantes se desenvolveram em contextos de guerra, sendo utilizados em diferentes conflitos internacionais. Utilizado pela primeira vez em Paris no ano de 1912 pela polícia francesa, as granadas de gás lacrimogêneo também foram disparadas durante a Primeira Guerra Mundial por diferentes Forças Armadas.

Durante a Guerra do Vietnã, os Estados Unidos utilizaram o gás lacrimogêneo de forma indiscriminada e massiva sob o argumento de que a arma, considerada não letal, não poderia matar civis. No entanto, especialistas indicam que o agente foi utilizado sem nenhuma restrição, sendo que seu uso foi completamente incompatível com qualquer conceito de aplicação não letal da força.

“Uma bomba de gás lacrimogêneo explodiu a menos de um metro de mim. Não consegui respirar ou falar durante algum tempo, asfixiada pelo gás não podia andar ou ver qualquer coisa que acontecia a minha volta. Ecoavam apenas os gritos de policiais e manifestantes. Eu não sabia se chorava por causa do gás, da agressão psicológica ou da sensação de incapacidade de sair dali correndo”. Manifestante anônimo, marcha da maconha 2010.

“Depois de termos sido encurralados pelas bombas, pancadas e spray de pimenta da polícia no Terminal Parque Dom Pedro II, voltamos a nos reagrupar e a caminhar, pacificamente, em direção a Praça da Sé. Quando olhei para frente, vi que iríamos passar por um pequeno túnel e que 3 ou 4 policiais estavam lá de cima. Falei com meus amigos ‘só falta eles jogarem uma bomba lá’. Não deu outra. Quando entramos no túnel, sentimos os efeitos desse gás horrível”. Manifestante anônimo, protesto contra o aumento da passagem dia 11/06/2013

2 Comments

  1. Heliana Castro Alves

    Estou preocupada, porque após essa onda de manifestações, desenvolvi uma tosse muito persistente que melhora, às vezes, e depois volta. Dá a sensação de compressão no peito. Eu já tive crise de bronquite alérgica, apenas uma vez, e fico pensando se comigo os efeitos deste gás foram mais fortes na ocasião. Inclusive, lembro bem, na última manifestação, fomos encurralados por bombas de gás e senti falta de ar intensa, que me levou a um momento de desespero. Muita nuvem branca e gente correndo. Só melhorei quando outro manifestante me apoiou e me orientou a respirar de forma menos afoita para inalar menos. No dia seguinte começou um acesso de tosse que faz doer meu peito, e até hoje ela persiste. É uma tosse seca. Algum médico de plantão pode me dizer se isso tem relação, ou não, com o último episódio?- depois, precisarei consultar um médico mesmo, mas quero saber se é viagem da minha cabeça.

    • admin

      Olá, Heliana
      Desculpe-nos por não termos respondido antes. Não podemos dizer se sua tosse tem relação com a inalação do gás lacrimogêneo. No entanto, há fortes indícios de que o gás tóxico pode levar o corpo a desenvolver problemas respiratórios. Recomendamos que você procure um médico o mais rápido possível. Por favor, conte para nós o resultado de seus exames. Se quiser contar melhor sua história, acesse nossa área de depoimentos no nosso site ( http://menosletais.org/de-seu-depoimento/ ). Obrigado e boa sorte!

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